top of page

Áudios revelam sofrimento de mulher mantida em cárcere por 5 anos no Paraná

25/03/2025


Vítima foi resgatada após enviar e-mail pedindo socorro para a Casa da Mulher Brasileira



Vítima de violência doméstica, a jovem de 23 anos mantida em cárcere privado pelo próprio marido por pelo menos 5 anos gravou áudios de conversas que teve com o suspeito em momentos que se sentia ameaçada.

 

O suspeito, Jean Machado Ribas, de 23 anos, está foragido. A defesa dele não quis se manifestar.

 

"O que mais dói em mim, é você me bater, Jean. Você me bate como se eu fosse um homem. Você me bate de verdade. Se fosse um tapa… mas você me afoga, você me dá soco, você tampa a minha respiração, você sobe em cima de mim, você puxa o meu cabelo", diz a vítima em uma das gravações.

 

A mulher foi resgatada junto com o filho de 4 anos pela Polícia Militar (PM) em Itaperuçu, na Região Metropolitana de Curitiba. A ajuda veio depois que ela enviou um e-mail com um pedido de socorro para a Casa da Mulher Brasileira, que oferece atendimento integral e humanizado para mulheres em situação de violência.

 

Em outra conversa gravada, a vítima fala sobre as agressões e o suspeito diz que "foi apenas uma briga".

 

Vítima: Aquele dia você quase me matou, sendo que eu não fiz nada.

Jean: Aquele dia era uma briga.

Vítima: Era uma briga, mas não pode bater em uma pessoa que não faz nada.

Jean: Aquilo foi só uma briga.

Vítima: Briga? Aquilo lá foi um inferno para mim.

Jean: Foi só uma briga.

Vítima: Não foi, um inferno, Jean. Aquilo lá nunca mais sai da minha cabeça. É olhar para tua cara e eu lembro de você me socando em cima do sofá.

Em outro áudio, a vítima lamenta que foi agredida na frente do próprio filho.

 

Vítima: Aquela vez que você me amarrou eu achei que ia morrer.

Jean: Não.

Vítima: A pessoa amarrar a própria esposa!

Jean: Ah, mas que coisa…

Vítima: Eu não aguento mais entrar aqui, olhar no sofá e lembrar aquele dia que você me sufocou naquele sofá ali e o filho olhando para minha cara. Desde aquela vez que você me deixou com o rosto doendo. Você me deu um murro na cara, coisa que eu nem estava fazendo, e você me deu um murro na cara.

 

A vítima e o filho dela foram acolhidos e estão recebendo acompanhamento psicológico.

 

Segundo a vítima, os dois se conheceram na escola e se casaram. Juntos, tiveram um filho. No início do relacionamento, Jean não era agressivo, porém, com o tempo, a relação se transformou e ela passou a sofrer agressões físicas e psicológicas.

 

Ela relata que só podia sair acompanhada dele e, mesmo assim, apenas para locais controlados pela família do agressor.

 

Uma câmera de segurança instalada na casa, voltada para a porta da residência, era usada para monitorá-la, e Jean a vigiava remotamente enquanto trabalhava.

 

"Ele falava: 'Se você fugir, eu vou onde você tiver para te matar'", lembra.

 

Conforme o delegado Gabriel Fontana, o suspeito exercia um controle sobre a vida da vítima em forma de violência psicológica.

 

"A gente, ao pensar em cárcere, pensa em um cárcere clássico, da pessoa amarrada, em um quarto, sendo privada de sua liberdade. Nesse caso, a manutenção dela em cárcere era principalmente pelo domínio da liberdade dela através do medo e das ameaças", detalha.

 

Ao ser preso em flagrante, o homem prestou depoimento e negou que privava a vítima de liberdade. Ao ser questionado quando foi a última vez que agrediu a mulher, afirmou "que não se lembrava".

 

"É um depoimento que tenta desacreditar a palavra da vítima, mas ficou demonstrado que essa liberdade não existia em sua plenitude", explica o delegado.

Comments


Últimas Notícias

bottom of page